sábado, 4 de outubro de 2014

Rendi-me ao feitiço


Recebi o feitiço de braços abertos. Desfolhei a última página do livro de Miguel Real e, tal como as personagens do livro, representantes de uma linhagem histórica de portugueses na Índia, também eu me enfeiticei, pelo livro e pela Índia. Do livro, foi de certeza pela escrita ágil e ritmada de Miguel, pela quebra das regras gramaticais que representa tão bem a vida vivida num fôlego, como acontece naquele país, pelo retrato dos fragmentos da Idade dos Descobrimentos e do tempo de Salazar, das perseguições da Inquisição em ambos os cantos do mundo, pelo vislumbre inteligente dos paradoxos da cultura indiana e das contradições mesquinhas da portuguesa, por incitar o meu desejo de não parar de ler e por estimular a vontade de regressar a esse país que seduz. Da Índia, pelas cores dos saris esvoaçantes, o brilho das peles curtidas pelo sol, os cheiros da miséria misturados com as especiarias, os sabores quentes da comida variada, o sorriso fácil em cabeças meneantes, as peles macias amendoadas, pela atitude submissiva de quem sabe desde sempre que o destino está traçado. 
E o meu destino foi, desde sempre, conhecer a Índia. Pelos livros, pelas viagens e pelas pessoas. 


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