segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Gosto quando me perguntam...

... se sou italiana. Isto significa que o meu italiano melhorou visivelmente nos últimos meses e que o meu sotaque está um bocadinho menos português. Já me disseram que tenho sotaque sulista, da Sardenha (!), por mera coincidência, uma vez que nunca lá pus os pés.
Sempre gostei de aprender línguas estrangeiras. E normalmente quanto mais estranhas melhor, tipo árabe ou hindi. É sempre um desafio fascinante tentar perceber os pedaços de cultura que cada língua revela, como se cada uma delas representasse um modo diferente de ver o mundo. Em árabe o "Olá" é substituido por "Que a paz esteja convosco". Em japonês, antes de os portugueses lá chegarem, não havia nenhuma palavra que exprimisse o "Obrigado", a sua forma de agradecer era outra. O "Obrigado" materializou-se ao longo dos séculos no "Arigato" de hoje em dia. Na Índia "Sim" é "Ha" e o gesto da cabeça que o acompanha é um oito horizontal em vez da recta vertical do Ocidente (eu sei que soa estranho e que se estão a tentar fazer o oito vai parecer absurdo, mas digo-vos que eles fazem este aceno na perfeição!).
No caso do italiano, sendo uma língua latina, as semelhanças com o português são muitas. Mas as diferenças são inesperadas. Uma noite durante um jantar com italianos, uma colega falava do facto que os homens vão muito à "palestra". 5 minutos depois eu não conseguia perceber porque é que se continuava a comentar o facto de os homens irem à palestra.. ora pois, acontece que "palestra" em italiano significa "ginásio". Assim a conversa fez muito mais sentido. Ou o "pane morbido" que encontrei na primeira vez que fui ao supermercado em Itália. Pão mórbido? Mas o que raio quer isto dizer? Ora pois, "morbido" significa "macio" em italiano. Não faço ideia do porquê desta diferença abismal de significado em palavras iguais de linguas diferentes... mas aprendi a conter-me quando tento traduzir directamente uma palavra do português para o italiano quando falo, depois de ter inventado umas quantas palavras novas e ter reparado na cara de espanto dos colegas italianos. Não faz mal, sendo estrangeira posso permitir-me estes percalços... palavra a palavra vou aprendendo.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

“Sou portuguesa, trabalho no Luxemburgo e vivo na Alemanha”

Foi assim que a D. Telma se apresentou quando nos conhecemos por acaso no hotel onde fiquei alojada na cidade do Luxemburgo. Numa situação um bocadinho embaraçosa por me aperceber que os meus 5 anos de francês de escola não me servem para grande coisa quando tenho que perceber e falar em francês a sério. O senhor da recepção perguntou-me qualquer coisa que eu não percebi e a D. Telma, apercebendo-se da situação, perguntou-me, em português, se eu era portuguesa… “Sim!” respondi eu aliviada. “Eu percebi logo pelo seu nome na lista”, disse ela. Abençoados os 2 apelidos tipicamente portugueses que o meu passaporte mostra descaradamente! Um pouco de conversa e descobri que a D. Telma vive no outro lado da fronteira, porque “é mais bonito do que aqui”, segundo ela, e comuta diariamente para este país onde 45% da população é estrangeira. Na cidade do Luxemburgo, 2/3 da população vem de outra parte do mundo, muitos de Portugal. Um verdadeiro “melting pot” cultural que se esvanece nos edifícios modernos que povoam a cidade. Acabei também por descobrir que o senhor da recepção era, afinal, italiano… Ora, podiam ter dito logo, porque enquanto o meu francês está de férias (prolongadas), o meu italiano está bem activo! E foi em italiano que continuei a falar com o recepcionista. Que bom poder comunicar sem me engasgar em cada palavra!


domingo, 3 de outubro de 2010

Norte e Sul

Em Itália, os regionalismos têm um peso enorme. Para o Norte, os habitantes do Sul são simplórios, iletrados, sujos e chamam-se “Terrone”. Para o Sul, os do Norte são os “Polentone” e são sérios, ricos e muito pouco divertidos, praticamente suíços ou austríacos. Os preconceitos e estereótipos continuam a fazer parte do dia-a-dia. É verdade que no sul o clima é mais quente e agreste e os horários são, também por isso, diferentes. Enquanto que no Norte começar a trabalhar às 8h da manhã e ter uma pausa para almoço de máximo 1 hora é normal, no sul antes das 9h é impensável começar a trabalhar e a pausa para almoço é pelo menos de 2 horas. Também é verdade que o Sul é mais pobre e que há muitos migrantes no Norte, mais rico, com mais indústria e mais emprego, melhores infra-estruturas e mais financiamento público visível. Infelizmente estas diferenças e a grande vaga de migração para o Norte começam a trazer consequências perigosas, como o apoio cada vez maior ao partido de extrema direita “Lega Nord”, que pretende a separação entre o Norte e o Sul e o recambiamento de todos os (i)migrantes.
Foi com estes preconceitos em mente que o protagonista do filme “Benvenuti al Sud”, que vi ontem, partiu para uma vila na zona de Nápoles, vestido com um colete à prova de balas e munido da inspiração nortenha de eficiência e seriedade. Depois de algumas peripécias de partir o coco o rir, no final o protagonista descobre que pode ver o pôr-do-sol sobre o mar (em Milão isso não existe), o gosto pelas inúmeras pausas para café, o prazer da comida, a amizade e a boa-vontade de pessoas simples que o ajudam sem pedir contrapartidas. Uma verdadeira lição de vida que ficou no coração do protagonista e da sua família. E para mim uma oportunidade para confirmar que são estas pequenas diferenças que tornam cada sítio único e especial e que só conseguimos apreciar com uma mente aberta e limpa de preconceitos.

Paciência de viajante...


O meu ultimo dia em Portugal desta curta visita foi um rodopio. Não por falta de organização minha mas por más-vontades e acasos alheios. E o facto de não ser culpa minha ainda me chateia mais. Ora, a minha primeira aventura começou com a compra do bilhete de expresso pela internet, supostamente fácil e rápida, que me permitiria evitar a deslocação ao café onde se compra o bilhete. Puro engano. O email de confirmação da compra – ou seja, o bilhete - nunca chegou à minha caixa de correio e o serviço de clientes a quem contactei por telefone a pedir contas disse-me para me dirigir ao agente na Batalha e apresentar a referência que o bilhete ser-me-ia entregue. Outro engano. A senhora do café recusou-se peremptoriamente a dar-me o bilhete porque nunca tinha feito e… não podia ser. “Mas Ò Dona P., se quiser ligue para a rodoviária a perguntar como funciona, eles dizem-lhe como é”. “Ah, não vou gastar dinheiro numa chamada telefónica para a rodoviária…” (!!) Bem, eu entretanto a ver o tempo a passar até me ofereci para pagar o raio da chamada, mas mesmo assim recusou-se a resolver o problema e eu tive que pagar um segundo bilhete para poder embarcar no autocarro. Com o aviso dado: a reclamação iria ser feita em Lisboa logo que chegasse e o agente da Batalha indicado como tendo recusado prestar um serviço.
Mas no meio das confusões e da má-vontade, encontra-se boa gente com vontade de ajudar. Logo a seguir o motorista do expresso, ouvindo as minhas questões sobre o assunto, telefonou aos serviços a descrever a minha situação e a perguntar onde eu me devia dirigir para reclamar o dinheiro do bilhete. Por iniciativa própria. E com um sorriso meu de resposta. A reclamação foi feita e recebi um bilhete sem data entre Lisboa e Batalha para usar quando quisesse. Apesar de tudo correu bem, não fosse o tempo perdido e a consciência que a má-vontade causa muitos obstáculos desnecessários…
Já em Lisboa, e à boa maneira da Sandra pelintra, apanho o autocarro desde a Tapada da Ajuda até à Baixa, onde esperava apanhar o metro da linha azul para chegar a Sete Rios. Para poupar 3 euros (a diferença em relação ao táxi) fui todo o caminho em pé, num autocarro cheio de gente e com um calor insuportável, parando em todas as paragens existentes, para chegar à estação de metro e descobrir que a linha azul estava interrompida. Bolas! Tive que gastar o mesmo dinheiro num táxi desde a Baixa, mais o dinheiro que paguei no autocarro… mas felizmente encontrei um taxista simpático que conhecia a Batalha e a Nazaré e que me foi entretendo pelo caminho. Depois destas correrias todas, cheguei ao aeroporto quase sem fôlego para ficar a saber que o avião estava atrasado. Uff… paciência de viajante tem limites!