sexta-feira, 20 de março de 2009

Há coisas que não se explicam…

A pasta que levo para o trabalho tem várias bolsas e utilizo cada uma delas para arrumar coisas específicas. Assim sei sempre onde tenho o que preciso, não vá esta minha cabeça distraída fazer das suas. Nunca verifico se levo o cartão de entrada do JRC, porque sei que ele está na bolsa que lhe pertence. Hoje, por razões que desconheço, por uma espécie de intuição talvez, ao sair de casa lembrei-me de ver se o cartão estava no sítio devido. Não estava. Voltei a casa e procurei por todos os cantos durante 15 minutos, até que me lembrei, mais por falta de opções do que por convicção, que o poderia ter deixado no gabinete ou no carro da colega que eu conduzi para casa ontem. Lá fui eu até à recepção do centro dizer que me tinha esquecido do cartão e deram-me um provisório para eu poder entrar. Chegada ao edifício onde trabalho, fui ao carro da minha colega (que não sabia nada do cartão) procurar junto ao banco do condutor, o único que tinha utilizado, mas o cartão não aparecia. Por descargo de consciência, procurei também do lado do passageiro, e lá estava ele, arrumadinho no compartimento da porta do pendura. Como é que ele foi lá parar, não faço ideia. Parece que o meu cérebro gosta de pregar estas partidas e apaga momentos que considera desinteressantes…só para me dar uma manhã atribulada de vez em quando.

O Santo Irlandês

Não sei quase nada sobre ele, excepto que se chama St. Patrick e que é celebrado no dia 17 de Março. Mas isso não é motivo para não celebrar juntamente com os irlandeses, vestida de verde e com um "pint" de cerveja Guiness na mão. Foi o que fizemos na Terça-feira. Apanhámos o barco em Laveno ao pôr-do-sol para Intra-Stresa, no outro lado do Lago Maggiore e fomos para o bar irlandês da terra. Uma noite de folia para recordar.

Pôr-do-sol em Laveno, à beira do lago

Eu, verde, em homenagem ao St. Patrick irlandês

Alguns dos meus acompanhantes

Trabalho e italianices

A semana de trabalho começou no domingo… com um prazo de entrega para 2ª feira marcado na 6ª anterior… para chegar a 2ª feira e saber que o prazo foi adiado! Já me devia ter habituado a estas coisas, mas nisso não sou muito italiana nem portuguesa… se tenho um prazo, tento cumprir. Mas aqui em Itália, se um italiano disser “Sim, amanhã já trato disso”, na verdade está a pensar “Daqui a duas semanas, talvez eu pegue nisso…”. Eles próprios o dizem, sem embaraço e com os característicos gestos das mãos a que eu também já me estou a acostumar. Aqui há dias um colega, também estrangeiro, comentava que não sabia como é que os italianos conseguiam conduzir e falar ao telemóvel ao mesmo tempo… é simples, largam o volante para gesticularem, com o maior à-vontade… e pobre da bicicleta ou do pedestre que se meta à frente.

Caminhos verticais

No sábado fui fazer escalada. A primeira e única vez que experimentei subir rochas foi numa actividade de escuteiros há para aí uns 12 anos. Desta vez pareceu tudo muito mais profissional, incluindo as dores musculares que vieram a seguir. Não me lembrava que era tão difícil, principalmente naquelas partes em que só cabem 2 dedos de uma das mãos na pequena saliência da rocha situada a 1 metro de distância dos meus pés, apoiados apenas nas pontas. Tarefa árdua… mas para repetir, numa outra parede sobre o lago e num ambiente de convívio alimentado pela partilha de sacos de gomas.


A vista sobre o lago e os Alpes


Sim, aquela ali sou eu... a subir

... e a descer

terça-feira, 10 de março de 2009

Cosi d'Italia...

Passamos a nossa vida inteira a ouvir dizer que os europeus do sul, os latinos, são muito parecidos. Que entre espanhóis, italianos e portugueses, "venha o diabo e escolha" (no bom sentido). É verdade, se compararmos esta parte do mundo - o Sul da Europa - com o Norte do continente. Há coisas que distinguem os latinos dos restantes europeus, e passo a apontar apenas algumas: os atrasos, a condução, a fala expressiva, o gosto pelas danças ritmadas (e o jeito natural para dançar), a alegria de poder celebrar pela mínima razão... lembro-me de uma situação embaraçosa na Holanda, esse país de diferentes costumes onde vivi já lá vão 9 anos. Num dia frio de Outono, depois de uma viagem curta de bicicleta desde a minha casa, chego à porta da sala de aula (que ia ter pela primeira vez) 3 minutos depois da hora marcada. A porta estava fechada, coisa a que não estava habituada em Coimbra, onde se pratica o benevolente "quarto-de-hora académico". Bati à porta, entrei e o professor, sem saber quem eu era, disse automaticamente "Ola", porque para chegar atrasada, ou era espanhola ou era portuguesa, e "Ola" serve para ambos. Devo ter corado nesse momento, ao aperceber-me que a indisciplina associada à minha cultura me perseguia, e segui para a mesa do fundo calada que nem um rato. 2 minutos depois chegou o meu colega espanhol... um outro "Ola" irrompeu pela sala, mostrando que não se pode confiar nos latinos para chegar à hora marcada.

Não obstante estas semelhanças, que ao fim e ao cabo são muito engraçadas e das quais me acabo por orgulhar, as diferenças começam a notar-se quando partilhamos o dia-a-dia. São tantas as diferenças que às vezes parecem autênticos abismos. A comida é um deles; aqui não se come massa com mais qualquer coisa. Se queres comer massa, tudo bem, mas num "piato solo" e antes de tudo o resto. O acompanhamento para o "piato principale" (carne ou peixe) é facultativo, só pedes se quiseres (e pagas à parte). Não é de estranhar, depois de ter comido um prato de massa não é preciso comer muito mais. E os alimentos estranhos que nos aparecem... radicio (uma alface roxa e amarga), carciofo (alcachofra - este até conhecemos) ou finocchio (funcho), um vegetal de corpo branco e redondo com camadas como a cebola. Só me lembrava dos rebuçados de funcho que se encontram na Madeira, reconheci-o através do cheiro característico. E provei cru e em Minestrone (sopa) pela primeira vez. Já que estou na Itália, que me torne pelo menos um bocadinho italiana.

domingo, 8 de março de 2009

O Daihatsu amarelo

Foi uma das minhas companhias este fim-de-semana. E que boa companhia! O Daihatsu conseguiu levar-me a Milão para ver Il Duomo (uma catedral gótica que matou as minhas saudades do Mosteiro da Batalha), passear pelas ruas cheias de gente, fazer compras no mercado, provar o mel da região, beber um cappuccino no café da livraria Mondadori (uma das editoras mais conhecidas de Itália), jantar com os meus amigos milaneses, comer uma lasanha com Gorgonzola e fruta al cioccolato , receber uma orquídea, dar 3 voltas à área das chegadas do aeroporto de Malpensa à procura de uma amiga (que estava à nossa espera no local errado) e acabar o fim-de-semana a pensar que se aproveita bem melhor a Itália com um Daihatsu amarelo à disposição!

Il Duomo, no centro de Milão


Palavras para quê?

segunda-feira, 2 de março de 2009

O meu primeiro livro

italiano é… Il Piccolo Príncipe (o meu adorado “O Principezinho”), encontrado por acaso no Carrefour mais próximo.


O segundo chegou hoje pelo correio, na minha primeira compra através um website italiano: “La solitudine dei numeri primi”, de Paolo Giordano, um doutorando em Física cujo primeiro romance se transformou num best-seller e o fez ganhar o prémio Strega 2008, um dos mais conceituados prémios da literatura italiana. E ainda por cima é um italiano todo giraço… razões mais que suficientes para eu comprar o livro.

http://ipsilon.publico.pt/livros/entrevista.aspx?id=223400

Como

De certeza que já ouviram falar em Como… aquele famoso lago onde o George Clooney tem uma mansão? Pois, esse mesmo… Clooney à parte, a cidade vale bem uma (ou várias visitas) por si só. E fica a apenas 50 km de Ispra (que demorámos quase 2 horas a percorrer… adiante).

O lago Como tem a forma de um Y invertido e a cidade de Como localiza-se na ponta de um dos braços. A muralha de forma quadrada que rodeia o centro histórico da cidade conta a rivalidade medieval entre Como e Milão. No topo de uma das montanhas que rodeiam o lago construiu-se uma torre, de onde se pode avistar Milão e que permitia uma preparação atempada de potenciais ataques milaneses. Suspeito que isto só seria possível em dias sem nevoeiro, o que junto ao lago pode ser raro, mas os locais contam a história assim. Também se conta que, em determinados anos, o nível da água do lago sobe muito e inunda a praça principal, impedindo a população de aceder às ruas junto às margens e obrigando à aplicação de técnicas de escoamento de água que normalmente não resultam.

Ainda existem 3 casas medievais no centro histórico, misturadas com outros estilos mais recentes mas que mantêm mesmo assim uma atmosfera de feudalismo. Esta visita de poucas horas e debaixo de chuva miudinha soube a pouco… hei-de voltar a Como, talvez não num domingo, o dia de descanso por excelência e quando não se encontra quase nenhum estabelecimento aberto (com excepção do McDonald’s). Talvez o destino me faça cruzar com o George (Clooney)… o tal que, segundo dizem, costumava jogar à bola com os ragazzini da terra, antes de se tornar demasiado famoso para poder andar descansado na rua.

Coccinela o Farfalla?

Na 3ª feira, dia 24, foi Carnaval. Aqui não é feriado, mas as escolas fecham e as famílias aproveitam uma semana de férias na neve, talvez por isso se chame a “Settimana Bianca” (semana branca). Para mim, Carnaval não é um verdadeiro Carnaval sem um pezinho de dança e por isso fui a uma festa na 3ª feira à noite com uma colega. Para além de uns passinhos de Salsa novos, aprendi que Coccinela é Joaninha, Farfalla é borboleta, que Chiaccheri são uma espécie de coscorões típicos do Carnaval e que os italianos são tão ou mais foliões que os portugueses. Mas isso já se sabia, que a queda para a festança está nos genes latinos… não há nada a fazer!